O pássaro caiu de seu voo preso no ar com o peso de suas memórias
São espectros de uma vida vã cercada de silêncio, de lábios selados
Detrás de um sorriso impostor, há um nó de uma tristeza escondida
Uma angústia que vibra fazendo o pássaro ter suas formas perdidas
A dor tem o dom de nos assaltar deixando perguntas irrespondidas.
Atrás desse tremor busco uma figura no escuro, um susto sacudido
Em nome de quem te ergues destes versos a descompor os sentidos
Porque me assombras em meio às noites trespassando minha razão
Espargindo o enigma, cantando esse canto para meu espanto e fugir
Absorvo a ideia que reabriste o livro decidida a continuar a história
Estranhos presságios renascem deste transe em tua face escondida
Com dedos de agulhas e linhas recosturas milagres em minha carne
O pássaro volta sua face para a negritude da noite e então mergulha
Com as asas do pensamento nutre seu voo solidão à imagem que viu
Sabe que a razão repele a quem seu coração pressente nessas figuras
De obscuras palavras que tomam outros contornos nestes dias ermos
Reconstrói antigas promessas e a vida lhe volta a palpitar sob a pele
A esperança renasce impregnada de recônditos mistérios e segredos
A magia é o dom de reinventar-me alado para alçar voo noite adentro
Sem limites, sem forma, acima da selva de pedra da qual me desprendo
Deslizando na quietude do ar sobre a planície verde agora adormecida
Fluindo sobre as estradas serpentinas que imitam rios de águas negras
Que seguem para além do horizonte onde o vento e a terra se reúnem
Um feixe de luz guia os movimentos para o pássaro irromper liberto
As múltiplas horas entre o anoitecer e a aurora escorrem-se lentamente
Submerso na minha solidão cotidiana, pulsa a dúvida que não vai calar
Signo após signo se reúnem além das sombras, porém não há respostas
Porque me queres além do trivial, sabes que não há trabalho de artesão
nem formula a moldar esta pedra para despi-la de suas arestas enquanto
apenas os silvos da serpente desafiam o silêncio da noite a imitar a vida.