Pudesse eu, vestir-te com o canto da minha boca,
decifrar o enigma da tua voz emudecida,
soltar as velas do meu barco, endireitar a proa
e velejar em alto mar, sem rumo nem direção.
Pudesse eu, descalçar os pés à indiferença,
soltar os passos da negligência
e escutar todos os sons que não ouço
e morrem no vazio dos dias.
Pudesse eu escalar uma montanha íngreme,
fincar os pés sem vertigens,
abraçar a vida nas cordas da esperança
deixar o grito que trago preso na garganta,
cair nas malhas da confiança
e tecer um vestido bonito, para celebrar a vida.
Pudesse eu, ser sorriso sem pranto,
ser brisa, ser melodia ao vento e dançar
com as palavras dentro de toda a alegria
que me reverencia a alma.
Pudesse eu, silenciar todos os quereres,
lançar-me no espaço das palavras,
beber a vertigem dos ecos,
esculpir na sede do meu pranto
uma escultura com a tua esfinge,
para te embalar num abraço
demorado, pudesse eu...
Alice Vaz de Barros
Alice Vaz De Barros