Quando somos imensos, profundos,
misteriosos e inspiramos tanto temor
aos outros como um céu noturno,
percebemos que a nossa natureza
será sempre amplamente ininterpretável.
Se deixássemos de interferir com estas vastas
potencialidades da alma, seria impossível prever,
o que poderíamos levar a cabo e quanta vida fluiria
através de nós.
A alma gera uma individualidade de raízes profundas,
não surge voluntariamente nem é moldada e apoiada
de uma maneira intencional e consciente.
A alma surge misteriosamente com raízes
na eternidade e é ilimitada.
O poder desta individualidade não é forçado
mas emana da sua própria individualidade
e veracidade intrínsecas.
Quando vislumbramos a alma de outra pessoa
observamo-la em aspectos que ela própria
pode desconhecer.
Que as nossas almas possam esculpir
as nossas vidas diariamente, pois não é fácil
viver com o poder e o mistério de outra
personalidade com alma.
Por este motivo, não podemos e nem devemos
depender das promessas de outra alma uma vez
que as almas não estão dispostas a sujeitar-se.
Ninguém entende tudo o que está a passar-se na alma,
como pode alguém que nos é próximo, cuja vida
está seriamente envolvida com a nossa, compreendê-la
ainda que remotamente?
A única solução que conheço e me parece mais coerente
é que se respeite a alma se reconheça o mistério
inelutavelmente contido numa vida dotada
de alma e ambos valorizem essa imprevisibilidade.
Só uma atitude grandiosa pode desencadear
uma mudança radical de valores.
Normalmente e espontaneamente, honramos
os compromissos, as promessas, as fidelidades
e os hábitos.
Porém quando estes valores são infringidos,
ficamos indignados e queixamo-nos de um defeito
na relação.
Por outro lado, se tivermos em mente um quadro
mais amplo e honrarmos a tendência que a alma
tem de se mover misteriosamente, podemos compreender
que cada ação imprevisível que provém dela, possui
um efeito positivo numa relação.
Tudo isto exige maior adaptação e concessões
que vão possibilitar um aprofundamento constante
e permanente da relação com bases para esse apego
na alma, em vez de na vontade pessoal.
Além disso, a obstinação pessoal está entrelaçada
por norma com o medo e a manipulação, criando
um terreno pouco aprofundado para que se possa
estabelecer a intimidade.
Um outro aspecto de uma relação com alma é que ela
é dotada de originalidade e espontaneidade.
Cada relação possui uma alma muito sua,
que acaba por conferir à união, muitas qualidades
da alma que incluem a individualidade de cada um.
Não revela por isso qualquer tendência a cumprir regras
e expectativas.
Terão com certeza altos e baixos, e algumas perigosas
Inclinações para a dissolução, mas por outro lado
os seus aprofundados e enraizados alicerces para se manter.
Do meu livro a editar: "Olhos que trespassam o coração"
(Alice Vaz De Barros)
Alice Vaz De Barros