Abissimor:
Tenho minha boca cheia de lamentos e palavras impronunciadas
Tenho minh’alma repleta de tenazes tormentas, o escuro infindo
Sou o sonhador que marcha pelos campos que a lenda esqueceu
Ermentior:
Sobre meu cavalo que cavalga os ventos, sigo em busca do verão
Busco dias ensolarados em festa de cores e me esquivo da febre
Busco a alegria como o arauto que acorda a vila com sua trompa
Abissimor:
Meu dia nasce com o coração ferido, trespassado, vai a sangrar
A noite de cobre vem a meu encontro, meu país é sempre noite
Vejo bocas pálidas repletas de cantos que não se atrevem cantar
Ermentior:
A primavera se faz estampar em flores no peitoral de meu cavalo
Sou o cavaleiro do Lírio, sou o dançarino que revoa o pó do chão
Caminho entre as árvores, os olhos na lua que me cobre de beijos
Abissimor:
Minha noite se cobre de nuvens, tudo é sombrio na névoa espessa
O relógio me cobra o tempo, com suas engrenagens já tanto gastas
Entre o ar morno da floresta, o feno desprende seu hálito de luto
Ermentior:
Trago o consolo em mim, cada pedra do caminho é um monumento
Uma aurora de mistérios se apresenta à minha frente no horizonte
Lanço-me bravio e proclamo ao silêncio que é chegada a minha voz
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O Poeta:
Os ponteiros se aproximam da meia noite, ao longe se veem clarões
É a chuva que se faz anunciar, bradando com reclamos de trovões
Vem aos ouvidos como antiga memória tão vívida quanto cotidiana
Soa a trombeta de ouro brilhante a anunciar que é hora de acordar
Hora que clama pelo poema com suas folhas brancas sobre a mesa