Você se diz ser peixe
Mas o peixe sou apenas eu.
Nas profundezas dos sentimentos
Isca igual a este coração teu
É mais do que alimento
Para peixe faminto como eu.
Abocanhei teu coração por engano
e fui trago à superfície violentamente.
Em meio ao meu sangue e entranhas presas ao anzol
Em tuas finas mãos, roguei-lhe em agonia:
"Não vês que não respiro e que me afogo?
Não vês que sangro e que morro?
Cá contigo jamais pode ser lugar de peixe.
As águas frias, embora desprovidas de alimento,
Não me ferem e sempre foram a minha única companhia.
Devolva-me, deixai-me seguir a minha vida!"
Estes teus olhos, demasiado humanos e monólidos
Penetraram estes meus, esbugalhados de outrora.
Sem aviso, lançastes o meu corpo do teu barco para fora
E caí ao longe nas inóspitas margens do desespero.
Tu, por longo tempo, observastes o meu debater insólito
E eu, antes de soltar o meu último suspiro de peixe vivo,
Quis admirar aquelas águas pela última vez.
Vi teu barco aos poucos se afastando das margens
E o teu pálido rosto estampava um sorriso delinquente.
Vistes-me agonizar e morrer pela minha própria boca.
Este belo espetáculo, enfim acaba! É a tua hora de partir.
Em teu barco, agora afastas-te determinada do meu cadáver
Para onde vai? Nunca saberei. Mas sei que segue em frente.
- Para a menina que queria ser um peixe.