Se fosse apenas graça, sutileza, encantamento, generosidade na figura daquela mulher, não me chamaria atenção...havia mais... havia majestade. Incorreto dizer que fosse uma beleza completa, resultado único e final. Era bela em detalhes, traço a traço, uma minúcia, um exaspero de filigranas dignos de um joalheiro real. Surgiu em minha frente como se não permitisse a existência do mundo, senão sob a aura do seu fascínio...uma força da natureza, uma magia. Me pergunta como chegar a Av. Paulista. Atoleimado em sua beleza, respondo hesitante...É perto, só subir a Rua Augusta, por aqui, aponto o lado contrario ao que se dirigia. Emendo para prolongar a magia do momento e da sua presença...Onde exatamente na Av Paulista você vai ? ...no Conjunto Nacional...responde olhar maroto acostumado aos homens abobados em sua presença. Insisto e sugiro...Livraria Cultura ? Baixa os olhos exaltando um brilho liquido de felicidade. Não, um encontro...Um súbito raio de sol, rápido, fugaz, rompe uma fresta nas nuvens carregadas de uma chuva iminente, projeta em seu rosto, as sombras de um ramo de folhas da arvore próxima, capturo esta imagem única... linda. Desejo-lhe sorte, invejo quem a espera, digo que esta próxima...me agradece...Oras não por isto, até...até responde. Vira-se e segue o trajeto por mim indicado. Caminha soberana, envergando uma calça envelope em tecido fino, que realça a beleza das formas. De sapatilhas dispensa saltos, para dar contorno as nádegas, “adelgar” o pescoço, empinar os seios. Acaricia a calçada da Rua Augusta com seu andar bailarino, tocando-o com a suavidade dos seus pés de gueixa. Deixei-me ficar uns momentos observando a beleza, me recompus, voltei ao meu caminho, empurro a realidade para mais tarde, olho para o nada , e vejo a imagem daquela mulher linda...aquela beleza esculpida no ar.
Carlos Said