Apocalipse
Há um monstro do outro lado da sala.
Há um monstro do outro lado da sala
Que tem o olhar fixo em mim.
No ecrã vazio da televisão
Está um monstro lá preso que olha para mim;
Tento distraí-lo, mas não me larga…
Está preso em mim;
O monstro dentro de mim
Que me grita aos ouvidos que não me servem para ouvir,
Frases loucas e ecos,
Erros que não deixo de repetir.
Há vezes em que monstro toma conta
E não me deixa sentir.
Fica ele com as dores para que eu possa fugir.
Mas isso deixa-o zangado,
Frustrado
Esse monstro preso e amaldiçoado
A viver dentro de mim.
Tenho pena dele…
Se já não bastasse eu a viver em mim,
Dei a este monstro este fim.
Ele por vezes conta-me histórias de alguém que conhece:
“Tudo nele é uma tragédia,
Parece estar para morrer.
O melhor desta comédia,
É que lhe acontece tudo antes de adormecer.
Palpita-lhe o coração,
Faz-se de forte;
Treme-lhe o chão
Por debaixo do colchão,
Já acha que é a morte.
Tic-tac, tic-tac, tem que adormecer
Há um prazo para pegar ao trabalho
Antes de morrer…
Entope-lhe o nariz,
Não consegue respirar,
Encontrou o amor, já acha que é feliz,
Por isso é tempo de finar…
Faz planos e contas para ganhar;
Mas ambos sabemos que vai falhar.
Assim acha que é a vida
Assim acha que o vou matar…”
Ninguém compreende,
Ninguém sente,
Só quem está no centro.
Há um monstro em mim;
Que espreita no silêncio que trago dentro…