Mal te conhecia de vista, mas eras exatamente assim que imaginei
Hoje és é a palma da mão, mas sempre é como fosse a primeira vez
Renasço e sigo intacto na escuridão, com as minhas asas blindadas
Por ter descoberto o segredo de te amar sempre pela primeira vez
Eu habito as noites selvagens entre nuas veredas da cidade calada
Já faz tempo que retirei meu coração do penhor e já posso usá-lo
Tudo isso me é fascinante, essa imagem oblíqua às janelas de casa
Tu como só tu pudesses ser, até parece não saber que te observo
Pela folha entreaberta, que dá entrada a um quarto desconhecido
Diante dela me encanto a cortina entremeia o esquadro da janela
Entrevejo uma imagem furtiva d’onde irrompe a sua parte-sombra
Estendendo-se em encantos de jasmim e quanto mais me aproximo
Mais sei que preciso me afastar do abismo e das flores em tumulto
Uma fé febril como que equivocada quando te ausentas, faz chorar
Enquanto eu desejo que meus pássaros selvagens habitem teu corpo
Nestas longas horas a angústia se confundiu um tanto com o sono
Em teus olhos de menina flor, me falta razão e salve-se quem puder
Eu farei dissolver-me para permitir que te ame com toda intensidade
Como homem algum tenha amado uma mulher, ser o próprio fogo que
De fogo se fez homem só para poder ter, assim, a liberdade de te amar