Dura arte de escrever!
Não podia ter os olhos salgados postos sobre a imensidão da paisagem que, lentamente, me enchia de pasmo e de ternura. Na embriaguez da descoberta da palavra certa, devorava cada recanto que espelhava fulgor em minha alma; cada imagem fazia transbordar e calar dentro de mim a sua imensidão. Cada rima apoderava-se do calor do magma quente que aquecia os meus pés e, rebelde, ia inebriando palavra a palavra num murmúrio excessivo de orgasmo cálido e fecundo.
Não via caminho, não havia destino. Fui teimosamente subindo cerro acima, deleitando-me com os tons de castanho e verde que vestiam a montanha, em busca de maior conquista.
Não havia árvore capaz de cerrar tamanhas vistas em meus olhos cansados e gastos de esperança e de luz. Quais labregos e malteses em ermo rochedo cavalgando medos em severa madrugada. Quais pastores de rebanhos teimosos e famintos de palavras de amor, libertos de amarras, rasgavam as vistas na rude madrugada quando se acercaram do cume.
Não reneguei a pátria, meu destino, meu labirinto de ideias. Fiquei vigilante envolto de suores frios perante o jogo de palavras armadilhadas soltando aromas gramaticais em terrenos áridos e frios.
Não espero nada, só a liberdade da palavra.
Não me prometes, Escrita, nada senão orgulho de novas conquistas, de novas palavras oradas e até quiçá laureadas. Ficaram palavras gravadas nessas vigílias, nessas madrugadas, nesses sulcos que ferindo a morte em sua altivez, alimentam de húmus a raiz da prosa e da poesia. Enquanto se cerram caminhos dourados abrem-se, concomitantemente, veredas de profícuas alvoradas.
Não vejo toda a vereda, por capricho, mas encerro meu amor neste caminho imenso da prosa.
João Garcez