...era uma pandemia!
O frio da noite não foi suficiente; os ânimos não se acalmaram e a angústia era ainda maior que meu estado normal de ansiedade.
Logo eu, de incerta origem; imaculado em princípios, os mais primitivos, agora, diante do desafio do viver ignavo, ronceiro...
Os jardins me atraiam; as praças; as luzentes vitrines do setor comercial; a dança inconsistente dos passantes pelas calçadas; mas, descer como?
Prudente era resignar-me diante do invariável ronco da geladeira; do amarfanhado leito desfeito, como se fora uma situação continuada e perene; os dedos já calejados e moldados pelas teclas do controle remoto, áquela altura com suas letrinhas todas apagadas...
O copo, enfim, por quase meio, sempre, era o acalento de minha estúpida arrogância, contida a troco de investidas vigilantes de meus circunstantes: “porquê queres ir onde nunca fostes?!”
A realidade me consome e não consigo mais, no espelho, enxergar como sou; e eu já nem sei se fui ou se serei!
Na imensidão do meu delírio, premido pela inércia pandêmica, acresça-se a incisiva profusão do frio, que dolorosamente abre e expõe as minhas entrâncias. Converto o traço, já, lesto e circunspecto, no pavor que me consome e me enche de arrepios, medo, e num espectro delirante, bizarro e impotente.
Virus filho de uma égua!
Wagner M. Martins –
Leia de Wagner M. Martins
FALA, FILHO DA MÃE!!! - Capa Paulo Vieira
UM BICHINHO À TOA. - Capa: Camilinho
Participação:
Livro OLHA PROCÊ VÊ! de Elias Rodrigues de Oliveira
No prelo:
UM INTRUSO NO QUINTAL
Desenho Edra Cartunista - Texto publicado no livro RABISCOS CONFINADOS, editado sob coordenação do Edra