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ESPELHO DUPLO

 

Bateram à porta.
Abri.
Era eu –
desdobramento de mim.

E a face morta
nada me pediu
nada exigiu,
e o que lhe dei
não me empobreceu.

Convidei-a para entrar -
ser-se simpático não magoa.

Magoa muito mais
deixar que passem p’la vida,
como lixo que já não nos sirva,
aqueles
que são nossos iguais.
Que de mil sortes, repartidas
por nós definidas
não deixaram seu lugar
na História.


E vocês, sociedade -
imbecil e preconceituosa -
de quais valores morais
é a vossa vitória?

A mão quando bate
não tem piedade,
mas se reconhecer solidariedade,
também sabe ser respeitosa.

Ah, vagabundo,
anjo de asas cortadas,
cruel é o mundo, a uns dá as estradas
a muitos mais réplicas empedradas -
ermos caminhos numa Terra sem Deus!

Olho, os céus,
e lá em baixo -

observo tudo
no cimo de uma nuvem -
somos um pouco

De sozinhos.

Mundo louco
mundo louco

invade-nos a ferrugem.

Jorge Humberto
15/12/20
Santa-Iria-da-Azóia

 
Autor
jorgehumberto
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/12/2020 21:59  Atualizado: 18/12/2020 22:02
 Re: ESPELHO DUPLO
É tão profundo. É um lindo poema, capaz de cortar sem ter faca na mão, é mesmo descrito uma grande batalha.