Os dias, subitamente, vêm fazer-se cinzas e baços
Nessas nuvens cinzas e dessa tua ausência infinda
Cinzentos tal o aço perfaz frases que não vão calar
Meu coração, agora resta de luto, com uma morte
Morreu a certeza de estares comigo inteiramente
Sinto-me tal fosse um pássaro que não pode voar
Mas, as mil vozes do pássaro romperão o véu gris
E indicarão que a verdade oculta nos sentimentos
Um dia vai desfazer todos os cipoais de mentiras
Emaranhadas nas armadilhas vis dos insensíveis
A verdade é que eu ainda a vejo, mesmo nas coisas
Que ela tocou mais de leve, com sua transparência
Refazendo o mundo perdido na voragem dos dias
Removendo minh’alma da sombra que a prendia
Devolvendo-a à sua matéria, à luz e todo o prazer.
As sombras não são um corpo, mas o vazio, o oco.
Nelas, encontra-se a distância que só me consume
E aumenta mais cada vez que tento me aproximar
A ansiedade e a falta de carinho, o ombro ausente,
A presença negada e as palavras de amor não ditas
São sombras de um caminho pérfido e sem retorno