Veneno
Tão fácil quanto o dia, é ser noite e não dia.
É a escolha sinistra de um momento
Talvez seja melhor não ter este pressentimento
Que se possível ou não, é tortuosa melodia.
Todo este egocentrismo é fútil
De não querer ser, aquilo que emerge das vísceras
Pensar lindo e corado, com a pele de icterícia.
Achando ser o melhor, e o mais predestinado
Quando nenhum caminho me leva a lugar algum e
Tudo que move neste velho e louco mundo
Por caminhos desconexos, como o andar de um bebum.
Mesmo se for muito, é melhor demonstrar ser pouco
Dane-se o absoluto, não há verdade plena.
Ao dobrar como um bambu ao vento
Todo o ar que serve de alimento
Dissipasse no palco e o ator se apequena
Um mar revolto, uma isolada ilha.
Tudo parece nada, é só mais um ponto no espaço.
Caso você blefe eu creio que de antemão passo
Porque este jogo não é uma maravilha
Somos feitos pelos olhares dos outros
Apesar de tudo não ter o menor sentido
Somos partes daquilo que já foi por demais dividido
Desço os degraus sem eu ter... nenhum subido
E é doce a sensação da perfeição
Aquilo que é ínfimo se contrapõe ao supremo
Melhor que ouvir a razão é ouvir o coração
Por que senão irei beber do meu próprio veneno
Alexandre Montalvan
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