Outra noite fitava o céu sob um manto negro de quase silêncio
onde os traços e espirais uniam as estrelas desenhando signos
Reconheço que eram as mesmas que eu seguia quando menino
A tecer pedidos enquanto ia, no escuro, desejando o impossível.
Só é passado mais um segundo e já não me encontro onde estou
Sou novamente o mesmo menino deitado nas pedras da infância
Absorto sob o vento que vem do mar e se esgueira entre árvores
Distanciando-se de mim rumo à serra com o som de manso tropel
Nesse doce abandono, desenraizado dos vivos, infante singro o céu
Atrevo-me entre refulgidos astros trespassados por um raio de sol
Nesses instantes que estrelas são ilhas e a lua refúgio de suavidade
Subo vértices de aéreos precipícios com minha brigada de sonhos
Mas na travessia desse mar irreal e fugaz minha alma deve retornar
Porque a noite não é real, é um tecido negro e seus furos sob o sol.
Certo que ninguém está livre de medos, sombras e silêncios ocultos
Nem os olhos de tentar vencer, em vão, o limite provisório do coração
E porque assim tive que retornar, vejo que estes meus versos insones
se fazem de apenas pobres sílabas, orfãs abandonadas sobre o papel