O que é um poema que eu escreva
Senão uma imagem desfocada, um desenho desigual
Daquilo que os olhos vêm e constroem
Na aparência leve e bela de tudo o que há no mundo
Essa coisa que não sinto mas escrevo como real.
Debito enganos no horizonte
Falsas cores, falsos jardins, falsos valores
Processo cheiros e sons
Alterados por falsas sensações.
Há um sonho que me leva mais além
Até outras realidades
São vontades e gritos e êxtases
É uma noite de verão
São heróis e vilões
São escravos das luzes, nas ruas de Cincinnati
Que embalam a cidade
Nas cordas do violão.
Encho de novo o copo e volto a ti
Memórias de quem partiu
E não lembro ver partir
Distraído na vertigem, minha viagem
E agora, este vazio.
O nada como princípio já me conforta
Vale-me a graça de olhar o sol no céu e cerrar os olhos
De sentir calor na pele e envelhecer sem rugas
E enganar-me a vida inteira
Resumindo-a a um momento
Que persiste, que se afirma e não passa.
O que é um poema que eu escreva
Senão um desenho desigual daquilo que os olhos vêm
Uma imagem desfocada de coisas leves e belas
Mas que destrói e mata sem que se veja
Não há vida que me alegre
Nem morte que me entristeça
Não tenho como certo o corpo que me pesa
Nem alma que o eleve e que o preencha.
Fico quieto, parado sobre as pernas
Só por ficar
Como andarilho que ninguém quer
Refúgio de indiferença.
Eureka!
A receita da felicidade
Mas sem forma onde enformar o velho sonho
De forma a formatar velhos sentidos
E encontrar novos caminhos
Que me levem ao teu lugar.
Viver é sair para a rua de manhã, aprender a amar e à noite voltar para casa.