Viro os olhos para o céu e não há no alto nenhum horizonte
Caminho sozinho na cidade e seus limites febris de concreto
A paisagem acima é cortada como o bisturi corta um câncer
Por isso é que tanto amo os horizontes sem limites da poesia
No coração acelerado, mal exercito-me, são apenas lágrimas
Nem vejo mais, nas esquinas, as flores brancas da esperança
Que um dia decoravam meu ir e vir entre nuvens de algodão
Que lá do alto iam derramando as gotas de chuva brilhantes
Nestes dias de pânico e angústia, a vida abriu-se à escuridão
E lá estão as flores arrancadas, traídas pelas palavras tão vãs
Quedadas sem voz, apenas num suspiro demasiadamente pífio
Um agravo ausente, uma frase aflita ou dolorosamente tardia
Ouço passos dos que se distanciam pelo corredor do hospital
Penso nesta vida e grito para pulsarem flores, sonhos e versos