MARCELA DUROU 15 MESES E 11 MIL RÉIS
apenas para recordar a sequência cronológica da última troca epistolar: não foi sem antes ter havido o resultado que impediria um reencontro que, "de repente", chegou a notícia da distância interestadual que ora nos separa
não sei por você, mas por mim, é já indício demasiado saber dessa "novidade" agora, após ter sido sacramentado o afastamento...
de ter sido casual o desencontro ou não, vai-se lá mais uma ocasião de dissabor e desencanto... quantas vezes será possível desiludir um sonhador de suas quimeras?
sou um teste empírico dessa resiliência: será possível quebrá-la mais uma vez? e outra.... e outra... e outra... ?
chega! que não aguento mais me afogar nas lembranças idealizadas de afagos nunca havidos... chega! que não me iludo mais de suplantar afogos por meus próprios nados
ali, a nadar em nadas já dantes conhecidos, só sei que tolo mais uma vez fui de te adorar... ali, a criar fios de sentidos que evanescem, cada vez mais rápidos, só resta a dor de ter te imaginado concreta
de ti pouco perdura, de ti apenas sopro, de ti apenas memórias, de ti kilômetros de distâncias insuplantáveis
de ti marcelas, que adoram mimos, que brincam fagueiras, que olham de lado, que sorriem matreiras, de ti apenas imagens embaçadas de um passado contestável
existiu ou não? como saber o que é fato ou sonho quando se trata de um encontro linguageiro? como saber se há, por detrás de palavras tratadas e escolhidas, algum fio que as ligue ao que é "real" ou mera tela de conveniência a aplacar a dor de existir?
sem mágoa, conduzo, que ela não me alenta mais que a brasa morna do fogo que ardeu um dia; sem mágoa, portanto, envio, que ela não me destina melhor a correspondência que o puro olhar cego de um caolho; sem mágoa, assim, cá olho, dessa perspectiva itinerante de quem muito já viu mas não apreciou por não ter havido o tempo; sem mágoa, terminante, me despeço lento a soltar-te a mão no mundo; sem mágoa, sou só Stevens, prá não me referir a felinos in english, deixo essa cifra a te dizer, como um pai: Beware!
que do meu banquete totêmico, reste-me uma lei para que eu descubra enfim com Sócrates o que é o amor, ou melhor, que desista dele de uma vez por todas