DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA:
Se há racismo evidente temos que ter dia de consciência Negra, índia, LGBT, dos pobres, dos oprimidos, dos miseráveis, dos imigrantes, para chamarmos a atenção e para buscarmos soluções.
Direitos iguais.
Oportunidades iguais.
Punição aos racistas e preconceituosos.
A consciência humana ganha com essas lutas.
E um dia, quando não houver mais racismo e preconceito, ai sim teremos um ano inteiro para todas as consciências humanas.
(Proteus).
MUITOS QUE SOU II
“Cada dia percebo que sou mais.
Tenho sido mais a vida toda
Muito mais agora,
Nesse mundo dos que se acham muito mais.
Eu, sou apenas mais...
Mais criança de rua.
Mais homem e mulher pobre.
Mais negro ou negra.
Mais homossexual.
Mais índio, mulçumano, palestino, tibetano, africano...
Os muitos que sou me tornam mais
contra os que se acham muito mais
E perseguem, reprimem, humilham,
Torturam e discriminam os que são mais.
Tenho pena desses que se acham donos de Deus.
Dos que se acham muito mais
pela cor da pele que lhes cobres os ossos.
Eu, na minha simplicidade, sou apenas mais...Um.
E nessa unidade de milhões, sou mais.
Serei sempre esse mais
contra a injustiça dos que se acham muito mais.”
(Proteus).
ÉBANO
Em minhas veias corre o sangue
do guerreiro de ébano que media a Savana
Disputando a sobrevivência
Com a fauna nobre da primeira Terra.
Em minha alma, o guerreiro acorrentado
obrigado a adubar o chão estrangeiro
com sangue e suor.
Sou filho destes homens diminuídos
pelo ódio e desprezo e que nunca se deixaram vencer.
Sou a continuidade mestiça.
Mistura imposta por circunstâncias, opressões e vivências,
que fez da nova terra o lugar da reconstrução.
Há luta ainda nos frutos libertos,
que buscam espaços, dignidade e vida.
O sangue do guerreiro antigo movimenta os rebentos.
Não haverá descanso enquanto as correntes enferrujadas
persistirem em ferir a pele escura com o preconceito
dos que se acham melhores.
A consciência não é só negra.
É parda, é cinza, é quase branca.
Em toda a mistura desse novo povo
O sangue do guerreiro de ébano da velha Savana africana
ainda mata um leão por dia.
(Proteus).
NA TERRA DOS CEGOS
Pois é...E já é Sexta - Dia da Consciência Negra.
Um Sexta que promete aqui e lá na decadente metrópole do Mundo.
Lá, pela absurda e gratuita morte de homens negros por policiais brancos nas já tradicionais covardes e brutais abordagens que caracterizam a polícia daquela nação e também da nossa.
Lá, os negros por enquanto ainda são minoria, mas são aguerridos na defesa de seus direitos e as manifestações prosseguem por todos os Estados Unidos sempre recheadas de violência, depredação e destruição.
Aqui, em meio à pandemia que diminui nossa população em mais de mil pessoas por dia, o racismo se manifesta todos os dias, com a polícia assassinando nossas crianças e jovens negros – que não são e nunca foram minoria – em suas ações sem sentido e despreparadas, contra as favelas e bairros pobres de nossas cidades.
Há, no entanto, paralela a tantas notícias ruins, uma comemoração muito especial.
Tony Tornado, para quem não sabe, um cantor e ator negro filho de pai guianense e mãe brasileira, fez 90 anos.
Tony ficou famoso ao cantar em um Festival de Música, a canção “BR3” em que levantava o punho ao estilo Black Power – aquele movimento negro norte americano que se tornou um partido e que se notabilizou pela luta contra o racismo e pela valorização da autoestima dos negros.
A grande ironia desta grande comemoração de aniversário, é que Tony deve ser o único homem que consegue beber de graça naqueles bares que ostentam o cartaz: “ Fiado só para maiores de 90 anos acompanhado pelo pai”.
Pois é, o pai dele ainda vive e está com 108 anos.
Tony poderia e até deveria ser um símbolo da resistência negra aqui e lá.
Lá, onde são por enquanto, minoria e aqui onde são a grande maioria da população.
Aqui e lá o racismos, apesar de terem características ligeiramente diferentes, é uma prática cotidiana.
Lá, mais descarada.
Aqui, ainda mascarada e velada.
E o absurdo do nosso racismo é que a maioria de nós somos negros ou descendes de negros.
Nada justifica que, em pleno século XXI, os seres humanos ainda discriminem uns aos outros pela cor da pele, ou por pensar diferente, por ser de uma outra etnia, por ser mulher, por opções sexuais, ou por ser pobre.
Pode haver esperança em uma espécie que ainda age assim?
O que aquele policial fez é apenas a ponta do iceberg de toda uma prática de discriminação e desrespeito que dura séculos.
Aqui, a nossa ponta do iceberg é grossa e todos os dias mata com balas perdidas - que teimam em achar crianças e jovens negros - ou mata indiscriminadamente, em excursões atrapalhadas e violentas contra populações de maioria negra.
E o vírus continua a matar enquanto as cidades flexibilizam a quarentena numa atitude que vai custar cara daqui a alguns dias.
E o vírus, também ele, mata - em sua maioria - negros e pobres.
Nenhuma novidade nessa terra surreal.
Mas teimamos em fechar os olhos achando que o que não vemos não existe.
Não existem as mortes causadas pelo vírus e não existe o racismo.
Não existe miséria, não existe preconceito, não existe matança de índios e gays, não existe florestas queimadas.
De olhos fechados eu não sinto essa dor.
De olhos fechados não sinto a dor e não resolvo os problemas que não vejo.
Se fecho os olhos e não consigo ver os mortos, concluo que não há mortos.
O que não vejo não sinto.
O que não sinto não sinto.
Então, tudo está bem, mesmo que não esteja.
Tudo é maravilhoso no país dos cegos que não querem ver.
Pois é... Bom Diaaaa. (Proteus).