A CONVICÇÃO DO DIA SEGUINTE
Começou a caminhada. Foi necessário limpar a neve do carreiro que mais à frente, ia desembocar no caminho. O sol começava a derreter os flocos menos espessos, e pequenos fios de água, iam-se formando ali e acolá. Chegou-lhe ao ouvido, trazido pelo vento, o cantar das raparigas de uma escola primária na hora do recreio. Fascínio aerotransportado do pátio, até ao declive onde estava. Com o belo som na cabeça, as passadas fizeram-se mais leves, o colorido do amanhecer tinha mais cor e – quilómetros adiante – uma carroça apareceu num recanto fora da rota, aparelhada, como se fosse sabedora do cansaço que a jornada até aí provocara.
Oportuna oportunidade. Oferta da sorte, a não desperdiçar. Com as rédeas na mão instigou os cavalos, e em andamento uma série de paisagens foram desfilando, de novidades rompedoras, à saída de cada curva do percurso.
É então – quem diria? – uma estalagem medieval, na beira do trajecto, acolhedora, lhe acena para parar.
Já era horas de comer e repor energia.
Fortificar o corpo e estimular a mente, bebendo vinho, autêntico elixir da vitalidade.
Depois do breve descanso recomeçou a andar, precisamente, minutos antes do estrondo da avalanche, que soterrou um novo cruzamento que esperava alcançar desde que o avistara.
Enquanto a via não foi desobstruída, a convicção desconvicçou, no seguinte e no dia, depois do dia seguinte percorrer fulminante o seguinte do dia e regressar ao início, também conhecido por princípio, o tal, que era verbo.
Cortesia de Santos Casais da Ferreira