NADA É ACASO
Somos figuras fictícias
Entrando em cenários imaginários.
Nunca aqui houve verdadeiramente
Algo de ponderado
Algo de palpável, que dissesse “Eu”,
“Tu”: carne, sangue e nervos;
Apenas o gume de uma faca
Mal manejada e sem corte rectilíneo.
Somos mentira, com conhecimento
De causa, embora uma força, maior
De que a nossa, pareça querer dar algum sentido à vida
E à morte – ambas são dissociáveis:
Somos, no nosso íntimo, forças bloqueadoras!
Desde as primícias, que a igualdade
De género é posta (propositadamente) em causa –
“E rastejarás como uma cobra e sofrerás
As dores do parto….”
Por muito que custe ler MULHER
É pouco mais que nada, força geradora
De vontades machistas, não importando
Se esta está na disposição de ir para a cama
Para ter e fazer sexo –
Como numa ilusão erótica de um poema
Carente –, ou, se pelo contrário, ele
Pensou nela, não como coisa de usar e virar
Para o outro lado da cama, findo o acto,
mas se a respiração, de ambos se tocando,
Possa vir a chamar-se de “Amor”,
Infalível ao toque, sereno e apaziguador?
Somos como que uma corda de músculos,
Estendendo e distendendo,
Consoante o movimento mais ou menos rápido,
Dependendo do uso da força que se use.
E caminhamos como que nas mãos de um “estranho”,
Que encontramos na estrada
Por um mero acaso, de quem não tem nada de mais
Importante para fazer, numa tarde
Que se pôs chuvosa.
Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia
“Por decisão do autor, o texto está escrito de acordo com a antiga ortografia”.