Há dias que esqueço meu próprio nome e sou apenas aflição
Não vejo onde estás e tento não respirar para não sentir dor
A noite segue em sua ilusão como quem perde a noção de si
Subitamente a lua cheia flutua no céu desnudada das nuvens
Um quê empalidecida, um quê ausente na dor desse silêncio
A obviedade da paisagem não pressentida lateja como castigo
Sempre esteve ali, diante das janelas mudas dos meus erros
Não há mais crenças nem as raízes do que um dia já vivemos
Desfaço o mobiliário do olhar e resta tua sombra mortificante
Abandono imagens, hábitos e memórias e sei que nada aprendi
As horas me engolem tal areia movediça em meio a noite alta
Assusta-me o que não sei e os cômodos vazios me confundem
Em um vislumbre tua imagem nua surge e escapa de meu ser
Mergulho meus lábios no infinito oceano do teu último beijo
No abismo da minha súplica construo um mundo impossível
Debato-me entre meus dilemas, mesclo as soluções, emudeço
Movo-me sombrio entre extremos na indizível ânsia de voar
Abandono os argumentos previsíveis que brotam como úsnea
O imprevisível refaz a memória do amor com que sonhamos
Por fim, para que me cobices, quando me tocas já não estou.