Sou o poeta nascido nos céus, lançado ao inferno, que teu amor ressucitou
Quem, pelo sortilégio próprio da poesia, tem a chave das portas do tempo
Ora vem contar a lenda do peregrino que rompeu o vazio com seus passos
O alquimista faz seu sonho viajar por anos luz de distância, sem cessar
Num segredo que jaz oculto no vento, ele carrega o negrume nebuloso
O fogo dos lampejos, ao som dos trovões, risca o negro do céu na noite
São memórias em ouro que jamais serão perdidas no poço do oblívio
Todo acontecimento têm seu ritmo interior e vem cercado de mistério
Que à tênue, e tanto amarga, fábula da vida não é dado compreender
A tarde se foi carregando uma busca de respostas, um jogo de porquês
Em nossa voz há mil palavras impronunciadas num poema não escrito
Irá decompor o espelho metamorfo das nossas pretensas estabilidades
A real face de nosso desejo, ocultamos atrás das máscaras que vestimos
Contudo tentamos dar à trama vã um sentido, ontem por vias paralelas
Hoje convergentes, quiçá a nos resgatar do lago das escassas conquistas
Anteponho-me aos obstáculos, luto contra o vácuo e o sonho irrealizado
Na minha luta me faço incansável no meu voo além dos nus horizontes
Voarei com o vento a abrir nos limbos caminhos de ausentes presenças
Abro os espaços em círculo, onde sou análogo à medida de teu corpo
Vou trocar as fechaduras, grilhões, correntes e tudo que negar a fábula
Ou nos ligue às convenções, pelo cheiro de terra úmida após a chuva
Assim te guardarei, de sorriso fácil e cabelos dourados num futuro melhor
Assim me acompanharás invisível, todo tempo, nessa busca inquietadora
Atravessando as inúmeras portas por onde só a palavra haverá de passar