Sonho de Verão
Tarde quente de verão,
Tarde doce, quente, amena,
É feliz meu coração
E bela a tarde serena.
Não sopra na sebe o vento,
Não bulem os pinheirais,
O rouxinol a contento
Vai cantando madrigais.
Rouxinol, ave de encanto,
Plumagem acetinada,
O teu mavioso canto
É melodia encantada.
As andorinhas nos ninhos,
Na tarde fresca e calma,
Cedem aos filhos carinhos,
Resquícios da sua alma.
Serpenteando formosa,
Correndo todo o jardim,
Pousa a abelha em toda a rosa,
Em cada cravo e jasmim.
Mas a leve mariposa
Surge como num lampejo,
Leve voa e, vaporosa,
A cada flor dá um beijo.
Ao zumbir cadenciado
Da abelha em cada canteiro
O pintassilgo cantado
Leva todo o cancioneiro.
E nas árvores da mata
Discutem alto os pardais,
No bosque a água em cascata
Espuma entre os salgueirais.
Nesta tarde quente e calma,
De espontânea natureza,
Meu coração e minha alma
Respiraram singeleza.
Se numa vida vivida,
No meio de ódio e guerra,
Pudesse ver repartida,
Nos quatro cantos da Terra,
A paz dum calmo ideal
Traduzido na pureza
Desse hálito virginal,
Que emana da natureza...
Meus sentidos agradados
Pensariam encontrar,
Como em delírios doirados,
A paz da força do amar.
Meu ser rejubilaria
Por ver encontrado, enfim,
Todo o mundo em harmonia
Na paz viva dum jardim.
Juvenal Nunes
Juvenal Nunes