Às vezes
tenho maio na pele. Dezembro nos pés.
E correm-me rios nas veias
nos lábios lavram-me as marés.
Um pouco de terra, um punhado
de pó
que à minha beira, só, me dê forma e maneira,
coluna e espinha.
[chega-me uma década às mãos
em meros segundos]
Guardo angústias, largo os rancores,
misturo na boca minha vários sabores...
Miro o céu, do chão, e admiro a lonjura
não a meço
em palmos,
cardo na fita métrica dos sonhos.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.