O Homem jaz morno e calmo num leito de vida.
Tudo corre á sua volta.
E a pressa afoga lentamente qualquer vontade de agir.
Com os olhos muito fechados sente a luz intensa queimando as costas das mãos.Morde as palmas em busca de antigas dores que possam ofuscar o momento.
A Luz é intensa demais.Queima.As lágrimas rebentam os diques e o véu carnal rompe-se.
Completamente imóvel,como morto,tudo vive.
Com um olho na Luz e outro no Desespero a todos entende não julgando ninguém senão si mesmo.Conscientemente contrariado, feliz mas ainda descontente, escolhe levantar-se e Agir.
Com especial cuidado queima todas as suas asas ou peneiras e limpa exaustivamente os pés de barro que tanto quer quebrados.
Os seus, à tanto, esperados actos são recebidos com júbilo e incentivo.
Um brilho estranho ilumina as ruas e as coincidências andam de mãos dadas.
Num beco escuro uma loira antiga conversa com um par de sapatos mais viajado que ela. Uma janela sobre o rio mostra o imparável da Vida.
Sem querer saber os motivos de ninguém procura os seus e grita-os para quem quiser ouvir.
Faz pactos de sangue com ele mesmo e quer morrer por eles.
Deus de cima sorri intrigado.
Sem nunca aceitar qualquer natureza acaba sendo o mais Natural possivel.
Recusando tudo o que não seja Amor acaba rodeado do que realmente É.
Conduzindo uma quadriga em chamas percorre o arco-íris esvaziando o caldeirão mágico sobre aqueles que o veêm.
Nada querendo, tudo acaba recebendo e retribuindo até ao ideal vazio final.
O Homem jaz morno e calmo num leito de vida.
A necessidade estará em escrever ou em ser lido?
Somos o que somos ou somos o queremos ser?
Será a contemplação inimiga da acção?
Estas e outras, muitas, dúvidas me levam a escrever na ânsia de me conhecer melhor e talvez conhecer outros.