Sou fina página a carregar o peso
da estória.
Beirando margens, rasgões se revelam mais que enredos.
Rasuras de capítulos arrependidos
de maus escritos.
Deixo-me ficar, tem dias, solta no vento,
para aplainar os lamentos
e ressaltar sorrisos em resquícios.
Assim, cada verso se fará leve para voar,
sem receio de que vá me rasgar levando pedaços meus.
Em alguma outra paragem me deixará cair,
quem sabe, sobre outra página com dupla face...
É meu corpo que escreve os meus poemas.
Minha alma é a sucursal da minha mão.
As palavras me buscam no silêncio.
Palavras são estrelas que reclamam
o papel branco: céu, constelação.
(Os Poemas - Lêdo Ivo)