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Tenho-te imagem em
silhueta cristalizada,
posando para mim
em perspectiva sombreada.
O lado oculto do teu rosto
como a face outra da lua,
não reconheço mais;
os espectros de tons vivos...
Auras amenas que emanavam de ti;
acinzentaram...
Cansei-me de olhar vago,
despeço-me de ti agora,
trespassando o teu corpo
antes de projetar-me no infinito,
horizontalizado pela
linha do céu com o mar.
No azul esverdeado,
distraído,
brinco no vai e vem da espuma,
fazendo-me e desfazendo-me
no balanço sinuoso da maré.
Com o indicador,
desenhos harmoniosos,
telas imaginárias
de neptunos, sereias,
monstros marinhos,
misturando-se com as gentes
de corpos bronzeados
que se movem num caminhar
sonolento de lá pra cá
nas areia douradas de Ipanema...
Aquietei o violão pra passar o tempo
vagabundeando com o pensamento...
Me pus a rabiscar na
úmida areia à beira mar...
Tudo tão real,
e ao mesmo tempo
uma irrealidade dura demais...
Fim de verão
e meu olhar permanece perdido
nos contornos da tua face,
ainda oculta como a da lua;
displicente e só.
Tudo tão real e
ao mesmo tempo;
uma irrealidade dura demais...
Minhas mãos não te tocando mais
como ainda toca o meu olhar,
o meu pensar,
o meu querer...
E do alto do seu abrigo,
rico ninho avarandado,
tu, tal qual ave rara,
indiferente e só,
fugindo do olho no olho,
do meu amor,
de costas ao poema...
Nem ao menos se deixar abraçar
pelo mar, ou pelas asas da minha poesia...
Sempre assim, displicente
ao meu simplório cantar.