Para alguns são pássaros, uns enormes
Que passeiam desprendidos de instintos
Entre pessoas cotidianamente distraídas
No turbilhão de uma segunda feira qualquer
Nutrem-se dessas distrações assombradas
E lá se vai um atropelado no branco da manhã
Nem causa pânico, tornou costumeiro assim
É apenas mais uma ausência logo esquecida
Vagando insciente quando a rua ficar vazia
E sua alma que nem saberá o que a atingiu
Para mim, e meus olhos bastante atentos,
São vampiros de asas por demais negras
Revoando a serviço do mal na multidão
Os demais seguem indiferentes ao perigo
Que os sobrevoa em círculos estreitos
Para despertar o que há de pior por dentro
Que é a indiferença à dor que toca o outro
Nesse teatro moderno de virar o rosto
E nem querer ver, algo tão inocultável
De fazer-se solitário quase por ofício
Aos poucos distanciar-se vai sendo normal
Não só ao físico, mas abandonar a empatia
Os olhos riscam a irmandade do léxico
Pois importa o que vem atrás do umbigo
E na cidade fria, cada qual tem seu umbigo
Invulneráveis ao drama que não sentem
Espectadores sem expressão frente à vida
Que salvar-se apenas a si, é seu ideal
Se querem que me acostume ao novo normal
Deviam me resetar, recriando sem o coração
Na maior crise vivida pela humanidade nestes tempos modernos, vemos pessoas se aproveitando da dor alheia, das necessidades alheias para lucrar: dinheiro, prestígio, poder não importando os corpos que ficam pelo caminho. Muitos aprenderão e outros irão ignorar o que o Criador, com isso, tenta nos ensinar...