Vejo-me morto.
Arrepios alucinantes me devoram.
Através duma tela côncava,
Sinto-me convexo em relação ao mundo.
Gritos espavoridos soam no éter.
Sinistras gargalhadas inundam o espaço
E eu numa horizontal mefítica
A esperar a inorgânica putrefação da carne.
Medonho palor inebria meus órgãos.
Percebo inúmeros batalhões de bactérias
A lambuzar-me a alma sedenta de vida,
Porém a morte erradicou-me a sobrevivência.
Vermes hediondos sugam-me, impiedosos.
A essas horas, meu corpo explode,
Implodindo a campa macabra que me cobre...
Estou, então, à mercê do céu aberto e límpido
E, os abutres, esvoaçantes, surgem na atmosfera,
Contemplando o que me resta de ideal alimento...
Brigam entre si, circundam-me as vísceras e,
Delas, para espanto seus, estranho olfato se faz no ar...
É um lírio perfumado que se exterioriza do coração...
Afinal, não pereci... Apenas sonhava pesadelos!
DE Ivan de Oliveira Melo