Descalço-me e bailo em teus olhos,
serpenteio o coração nas tuas mãos,
pensamento,
sentimento,
tudo me parece de ambos.
Se estou quieta penso que o vazio é um lugar demasiado incerto para se estar, se me agito oiço a breve melodia dos teus beijos, respiro-me na tua pele, encanto-me no teu olhar e antes que finde a ilusão quebro a distância num suspiro. Se a palavra se demora eu irrequieta não a deixo descansada, se o silêncio se evapora confesso que sofro calada.
Em soprano ecoa a tua voz no meu coração,
em contralto a minha voz ecoa dentro do teu.
Já bailei descalça sobre a tua alma, estendi meus passos num salão de dança, cravei com espinhos a indelicadeza dos gestos, suguei a magia dos poros e li-te aos vales e montes do meu corpo em carícias que me ofereci. Se as tuas mãos tocassem a minha súbtil existência tatuando-a com o teu tacto, se... se eu estivesse a dois passos de ti e a um palmo de mim...
... entre o meu corpo e eu
ainda mora um palmo de sonhos inteiros.
Esconjuro a eternidade das promessas ocas que se soltaram de uma boca trapaceira, lábios mentirosos. O coração que inventou umas palavras ilusórias ainda bate! Maldita quietude subverssiva, malditos passos que se pervertem... corrompida está a verdade que se desenhou diante de nós, apodrecida fala que não se revelou em acto.
Tiro o véu à dança e o chapéu ao baile,
descalça permaneço insinuando o ataque...
Destapei-te mas não te encontro.
Onde te perdes?
Onde te desmereces?
Rezo baixinho no prelúdio dos teus contornos, apregoo o sentimento às suas origens, oro aos meus pés descalços, uma última dança. Rasgo a pele com a estranheza desmoralizante em mim, eis que surge ao longe o equinócio dos corpos abençoados pela chuva.
Março canta a chuva ainda de pé,
agita os braços à Primavera notória,
eu subo às paredes da minha alma
e bailo, bailo em teus olhos...
. façam de conta que eu não estive cá .