OITENTA MIL Oitenta mil vozes se calaram... Nenhuma palavra de conforto. Nenhum grito de gol. Nenhum feliz aniversário. Nenhum bom dia ou boa noite. Oitenta mil vozes se calaram. Oitenta mil rostos deixaram de sorrir. Cento e sessenta mil olhos deixaram de brilhar. Cento e sessenta mil braços nunca mais vão abraçar. Há uma cadeira vazia em oitenta mil lares na hora do jantar. Oitenta mil empregados deixaram de trabalhar. Milhares de mães choram seus filhos. Milhares de filhos choram seus pais. Oitenta mil... Oitenta mil covas plantando gente. Oitenta mil que deixam saudades a outros tantos milhares que ficam. Oitenta mil. Não oito. Não oitenta. Não oitocentos. Não oito mil... Oitenta mil. (Proteus).
Oitenta mil testemunham o que digo "amigo" Ricardo (feliz dia dos "amigos"), oitenta mil (que não fiquem calados os que escutam as vozes dos enterrados ainda vivos e dos mortos, bem mais de mil nas valas comuns dos déspotas deste mundo )
Ainda que contem na tabuada do mil. Ainda demora um pouco a acabar... Já nem falo de oitenta em oitenta.
um poema de intervenção puro e duro. Pouco tem de poético, muito prosaico, mais valia ser uma reportagem de jornal, ou crónica do meu primo (esse só acorda quando bem lhe apetece, ainda não saiu da quarentena). Feitas as contas parece pouco num universo de duzentos ou mais milhões, mas contem um a um e devagar e vejam quantas horas levam a acabar...
A ideia de vala-comum horroriza-me, faz-me sempre pensar nos genocídio das grandes guerras, e na ex-Jugoslávia.
A nível poético está muito descritivo, mas o autor teve o objectivo de chocar com números e por mim, conseguiu. Excepção para: "oitenta mil covas plantando gente" Que já vale um poema e seria um grande sub-título.