Vento que levas
a luz contigo
e em troca
trazes as trevas,
como um castigo
que se desloca.
Vento que trazes
abrigado o frio,
fugidio é o calor,
jamais feito de quases.
Forte o teu assobio,
maior o teu ardor.
Vento que ventas
e mudas a face
a tudo.
De nada te apresentas,
em cada trespasse
és adaga e escudo.
Vento que vemos
nas nuvens,
nas ondas, nas folhas…
Nosso que nunca temos,
maior dos bens,
a última das escolhas.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.