Poemas do Hospício
De que vale
um vestido
mofado
no luar
de abril?
Estas são
as sombras
que passam
quando
despertas?
Brilha a copa
das árvores
no décimo andar
onde moras.
Espero-te
numa capa
de ouro atrás
dos vitrais.
Os dias
tocam
pianos.
Formigas
vermelhas
dançam
no verde
vale.
Anjos
embriagados
não morrem.
Quero
Quero alegrias
e anéis de rubi.
Lábios
corados
e desejos
soltos nas
mãos.
Vestidos
bordados
e colares
no baile
dos anjos.
Estranho
sorrisos lassos
sem comunhão.
O tempo
deságua
em ondas.
Ó bendita hora!
Orvalham as rosas
quando passas.
Bendigo o riso das
noites roubadas.
O tempo me olha...
Quero ver estrelas
antes da aurora.
Ouço as preces
dos monges e
os queixumes
das águas;
ouço o voo
dos pássaros.
A tarde borbulha
em arcos de luz.
-A quem
pertence
este céu?
Por que
este véu
nesta hora?
Desfaço-me
de retratos
e lenços
sem cores.
Corvos
abrem asas,
poemas
espalham-se.
Caem rosários.
Ando farto
da poeira
nas costas
dos santos
de pau.
Estou farto
do ouro no peito
e no pulso
dos reis.
Que pecado
é este debaixo
das nuvens?
Silêncio!
Sonhos
acontecem
na alma
em apuros.
És andorinha
sem rumo após
o temporal.
Olhas tua face
em espelhos
quebrados.
Descansam
as fadas
no chão
coberto
de neve.
Lembro-me
da última janela
fechada para
teus olhos.
Curvei-me
como se fosse
ontem.
Luas levaram
longe o sono
dos monges
Raios da manhã
acenderam o mar.
Lancei-me
no espaço
com olhos
fechados.
Meu riso
desperta
alegrias.
Canto ouvores.
Afasto-me dos
olhos dos fracos.
Num dia manso
aves pairam
nas portas
dos sábios.
Ando farto
da faca
na carne
dura.
Ouço
versos
soltos
nas
pedras.
Relâmpagos
arrancaram
teu falo.
Porque
estavas
nu?
Os dias
Os dias
passam
lentos
na tua
face.
Preciso de fé
para seguir
nas ondas
que levam
meu barco.
Apavora-me
a fúria do mar.
Passaros
deixaram
o mundo
em silêncio.
Sentida está
a minha alma.
Longe estou
das tuas águas!
Coragem!
Vamos rir
e ser
apenas
luxo
e mais
nada.
O que tenho
a perder?
O rapaz
de camisa branca
e calça cinza
no azul anil
de São Paulo?
Há hospícios.
precipícios.
Os sonhos
são fartos.
Os vermes
se fartam.
Roem
o estômago
cheio.
Hoje vago
atrasado
na estação
do metrô.
Vago vazio
sem sono
sem asas.
Ouço cantigas
medievais após
o vinho no cálice
da manhã.
Poemas em ondas deslizam nas águas.