Lembro-me de ti sorrindo-me em silêncio. Sei de cor as palavras que me disseste à sombra de um luar de Inverno, quando a chuva miudinha nos juntou e nos aconchegou debaixo do mesmo instante. Ainda sinto na pele os ruídos que o desejo riscou quando me traçou as vontades e desenhou em ti murmúrios que ainda oiço bafejando-me o ouvido. Em meus olhos faço parágrafos ao tempo querendo esquecer o que não vi, e tentando encontrar o que quero ver. Os lábios sentem o ardor dos beijos que me deste, quando abraçados ao calor da cumplicidade, te copiaste para dentro de mim e de mim passaste a fazer parte. Para sempre ficaste na carícia das minhas mãos, e revestiste-me a pele de um perfume raro nunca inventado em qualquer episódio ausente da nossa história de fantasias. As emoções dobraram-se em dois como um recado apaixonado num pedaço de papel, que só dois corações compassados conseguem partilhar e escrever em simultâneo. Lembro-me de ti chorando quando limpaste a minha lágrima escondida, derramada na saudade de te voltar a sonhar perdidamente de olhos abertos. Relembro o poema de Amor que em mim escreveste com a sabedoria dos teus dedos, releio as páginas brancas da minha alma e encontro pedaços de ti na forma da minha paixão. Memorizei o silêncio que se fez soar quando nos despedimos na berma da estrada da eternidade, à porta da esperança de nos voltarmos a saber mais uma vez. ... Lembro-me de nunca te ter conhecido, recordo apenas que sempre te amei…