Poemas : 

dilu(ir-se)

 
dilu(ir-se)
 



No momento lilás, que separa a noite do dia,
o silencio sempre encontra-me diluída em pensamentos.
Nem sempre é de remanso tal mistura; às vezes efervesço
em soluções ambíguas, e entro em desespero
sem saber o que está no avesso.
N' outras, borbulhas me engolem; fazem-me acreditar
que a vida é macia, como o deslize feliz de uma gota
de orvalho numa pétala de rosa ou no verde
promissor de uma folha, Sem se importar se
caiu da madrugada que chora.

 
Autor
GinaCortes
 
Texto
Data
Leituras
580
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
9 pontos
1
4
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 13/07/2020 06:37  Atualizado: 13/07/2020 21:27
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 2123
 Re: dilu(ir-se)
Nunca ficar-se.
Sentado no sofá, o Homem nem dá conta que vai como se fosse num comboio a alta velocidade, num planeta chamado Terra.
A sua presença nesse planeta é o mundo.

A diluição é um momento água. Qualquer substância em pequena quantidade, em contacto com a água, funde nela até um momento crítico que se chama de saturação.

Mas basta de falar do título.

Apresentas-nos uma prosa poética muito bem feita, cheia de figuras de estilo e aprumo.
A metáfora da diluição entra na segunda linha em que a substância é o sujeito poético e a água são os pensamentos.
Devemos pensar, e o pensar ser um elemento volumoso na nossa vida. Uma pequena parte de nós embebida em muito pensamento.

O sujeito poético não é indiferente às emoções, e aos conflitos interiores que o pensamento tenta resolver como vem explicado neste excerto
"...Nem sempre é de remanso tal mistura; às vezes efervesço
em soluções ambíguas, e entro em desespero
sem saber o que está no avesso...".

Há uma clara universalidade nestas indecisões, nos duplos sentidos do sentir.

O diluir-se chega com a esperança no final.
Ainda que saiba que é todo um processo ilusório que permite avançar no dia-a-dia.

Porque a alternativa é morrer.
Na morte há poesia, mas não poemas.

bj