Para quem não me conhece, aconselho a fechar o texto e ir ler outro.
Como hoje é o dia da denúncia vou-me aproveitar da ocasião, ou do ocaso, para denunciar.
Eu trabalho no estudo dos fenómenos estúpidos.
Quem se der ao trabalho de ler a minha carta de apresentação saberá que, além de ocasionalmente escrever crónicas quando estou azeitado, uma das minhas distrações é varrer a mata à cata de pinhas. A razão é artística.
Assim que o faço, hábito é de recolher do chão matoso, plásticos. Sobretudo garrafas de cinquenta mililitros de água do Luso, passo a publicidade, mas são dados estatísticos contablizáveis, além de sacos dos mais variados tamanhos e cores.
No fim da colheita, vai tudo para um dos sacos encontrados e colocado no ecoponto amarelo.
Até aqui nada de novo. Acho. E acho-os.
Também vejo por todo o lado, menos nas matas (e ainda bem, se bem que algumas provocam fogos), algo que teve o dito fogo na ponta e a boca na outra. Não, não falo de falos. Se as beatas da igreja onde não rezo nem vou soubessem desta quase comparação, iriam reiniciar a inquisição para eu ir para a fogueira atado a um poste.
Ainda há dias, um doente com covid19 que insistiu em ir à rua apanhar ar, foi carinhosamente amarrado às grades duma varanda por populares que não o queriam na rua.
Aquilo não foi um linchamento por acaso, ou ocaso.
É o que se chama de justiça popular de baixo nível, porque, com mais, tinham-lhe pegado fogo. Ficava pirado de vez.
Gosto de saltar à fogueira na noite de Santo António, fico sempre com as pestanas queimaditas...
Os cigarros têm um filtro de matéria desconhecida. Isso não se fuma e fica no chão. É o que pensam a maioria dos porcos, ou antes, javalis, que não as põem no lixo.
Já eu sou o inverso, não tenho filtro.
À porta dos cafés, lá há um dono que de vassoura e pá, ou se almejarem de pá e vassoura, que as apanha às centenas, num fim-de-dia-de-labor.
Com o Covid19, um vírus respiratório do tipo Corona (há tantos que têm de ser criativos na nomenclatura) muito agressivo, tem sido obrigatória por lei o uso de máscaras cirúrgicas para controle pandémico.
Um dia destes saí de máscara, óculos de sol de boné, e confundiram-me com um assaltante (olhei-me ao espelho). Quase que me ia roubando.
Essa merda agora anda toda espelhada pelo meio do alcatrão e da minha mata!
Ponham as vossas máscaras no lixo! Acho que é no amarelo.
Foda-se....
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.