Poemas : 

Bibelot

 
procurava a graça
nos cantos da casa, nas janelas,
coisa de porta

nas paredes nuas
pouco havia, uma prateleira
vazia, candeeiros sem luz

uma cama, ou duas,
onde comer e fazer obra,
soçobra

na confusão do preto e branco,
num banco com costas, alvo, discreto,
ou o escuro chão.

Procurava o direito e a torta
para o mesmo
efeito

o direito junto ao justo,
a torta por gosto,
seu prazer secreto

nas gritas em monólogos e paródias
em deslugar,
à vez ou num só

a direito no torto
e a torto no direito
até se não há, lá os via.

Procurava a pergunta,
perguntava pela procura
sem cura e junta

achava a pergunta em todo o lado
e a procura era infinita
enquanto dura

tinha-as guardado,
tão bem,
que inventava recomeços

e batia a uma certa porta
onde não morava
ninguém...


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
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