procurava a graça
nos cantos da casa, nas janelas,
coisa de porta
nas paredes nuas
pouco havia, uma prateleira
vazia, candeeiros sem luz
uma cama, ou duas,
onde comer e fazer obra,
soçobra
na confusão do preto e branco,
num banco com costas, alvo, discreto,
ou o escuro chão.
Procurava o direito e a torta
para o mesmo
efeito
o direito junto ao justo,
a torta por gosto,
seu prazer secreto
nas gritas em monólogos e paródias
em deslugar,
à vez ou num só
a direito no torto
e a torto no direito
até se não há, lá os via.
Procurava a pergunta,
perguntava pela procura
sem cura e junta
achava a pergunta em todo o lado
e a procura era infinita
enquanto dura
tinha-as guardado,
tão bem,
que inventava recomeços
e batia a uma certa porta
onde não morava
ninguém...
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.