Aceita-me.
Disse-me uma voz
num corpo vestido
de lilás.
Teus olhos
perdiam
a calma.
O tempo
transcorria
largo e leve.
Abraços
e olhares
ampliaram-se
no mundo.
Continuo num
exílio provisório.
Reacendo estrelas
fotografadas
na eternidade.
Despertas
saudades
inspiras
canções.
A espera é inútil?
Nossa história
é eterna e mágica.
Na alma
em farrapos,
fica a faca
sem corte
e amores acabados.
...
O homem deixa
rastros na poeira
de si mesmo.
A sombra
se arrasta
no meio
do caos.
.
Bordo as horas
na transparência
das mãos.
Sorbre retalhos
danço um balé
imaginário.
No espetáculo
do tempo
a alma sonha
e acaba?
Imagino.
Imagino
o destino
de um rio.
Possuo o segredo
das estrelas
no meio da tarde.
Imagino a chuva,
trovões e ventos irados.
Imagino uma cadeira vazia.
O relógio de pêndulo
da minha infância ainda badala.
Ouço passos
na escada
dos sobrados coloniais.
Sagração
Sinto o cheiro
da poeira
dos caminhos
que venci.
Perdi
o orgulho
na falta
de grana.
Tive amores.
Andei sem rumo,
aluguei corpos
e nomes.
Desperto
dos sonhos
que ainda
não perdi.
...
Uma borboleta
pousa nas mãos.
Entre canteiros
observo silêncios
e asas.
Na tua ausência
danço um tango
em Portugal.
Introspectivo,
não digo nada.
Espero gestos
de carinho
e afeto.
Na pausa
de melodias,
nada faço,
apenas choro.
Entre nós
flui a poesia
na paisagem
coberta de luz.
Vejo retratos amarelados
pela saudade.
O tempo
das almas
fala
às nuvens.
As pessoas
passam
com olhos
de pedra...
Mergulham
numa orgia
sem desejos
e sem medo
de nada.
Além das fronteiras
faróis iluminam
ilhas e sonhos.
Preciso fotografar nuvens e estrelas numa viagem inadiável.
No tempo
que se foi
homens se transformam.
Assim são promessas
e obras
inacabadas.
Alguém chorou.
Águas profundas
lavaram a face
coberta de lama.
Muros
separam
casas,
o vento
separa
águas.
A vida
carrega
o canto,
o canto
carrega
o adeus.
Raimundo Lonato
Poemas em ondas deslizam nas águas.