Como a época das pinhas está em baixa, vou a banhos.
Há uma ria junto a um mar onde é costume ir em pelota. Vai-se manter anónima para evitar predadoras sexuais.
Entre banhos de dias ímpares veio-me aos ouvidos, sobretudo ao esquerdo que tem hipoacúsia, uma notícia que arrepiou a besta que vos escreve.
Já nem me lembro no nome do branco que morreu sob o joelho de qualquer preto. Tantos sonhos por sonhar.
Depois foi ver aquela gota de água a cair num copo a transbordar de ressentimento justificado.
A escravatura dos tempos dos descobrimentos foi das mais sujas de sempre. Sempre houve escravos. Geralmente dos despojos de guerra de capa e espada, ou das invasões de territórios que chamamos brandamente de conquistas. Isto é, querias a terra do teu vizinho, matavas toda a gente e as crianças e as mulheres dos teus vizinhos tornam-se propriedade tua, assim como a terra inicialmente querida.
Querido, não é?
A que falo, procurava territórios. Mas também caçava os homens de determinadas características, para servir senhores déspotas. Ou dasputas. Para comercializar!
A comunidade africana descoberta à altura, pacata, sem armas de fogo (avanço tecnológico terrível) limitou-se a temer pela vida e ver a sua trocada por dinheiro. E a acumular rancor. Quem não acumularia?
Depois isto começou a incomodar os homens de bem.
A carta dos direitos humanos foi instituída, e a constituição norte-americana (ainda fazem algumas coisas de jeito) copiada pelos países que se queriam desenvolver industrialmente também.
O fim da escravatura foi o começo, bastante recente, para tornar o homem menos preconceituoso a esse nível, mas, ainda há escassos anos, se proclamava alegremente o apartheid na África do Sul. Vem de Apart - separação e previa uma sociedade em que não haviam cá misturas (e não houveram, apenas vergonhas)
Por mais que o branco tivesse usado e abusado do crime e o preto tivesse feito o que podia para evitar o inevitável (atirem lá pedras ao santinho), a morte foi essa gota que se juntou ao rancor justificado. Talvez o preto tivesse deixado o branco se levantar, até fugir, ou permitir um combate corpo-a-corpo estilo MMA.
Sou a favor de todas as manifestações em prole dessa morte.
Eu que sou preto sinto-me injustiçado, magoado, como se fosse dum filho branco meu que se tratasse.
Caralho!!!
O que não me cabe na cabeça é o que venho a descobrir há uns dias.
Ouvi na SIC que dois pretos tinham sido enforcados e deixados pendurados, como se fossem duas bandeiras.
Lá estão os cabrões do KKK a mostrar as pelagens (já que não têm garras).
A “supermacia branca” devia ser um título de filme porno, não uma ideologia qualquer. Claro que a parte dois seria a “supermacia preta”.
Depois decido-me qual ver.
Alguém já viu algum filme relacionado com o Klan, aquilo é de meter nojo até ao vómito.
Ponho sempre a hipótese no ar em jeito de provocação:
O racismo é uma mania de superioridade de raça, ou um medo irracional da própria ser inferior?
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.