Lua de Ícaro
Escravo da insanidade
despercebe a loucura,
manifesta a liberdade
ainda que por detrás das grades
da pequena cela escura.
Orgulhoso das enormes asas
sobrevoa a cidade,
acima dos telhados sujos das casas
mesmo que com as mãos atadas
bate palmas de felicidades.
Os pés no chão úmido e frio
não lhe remetem a realidade;
plaina sutil
em seu vôo infantil
tal como anjo de verdade.
Os olhos brilhantes
miram por hora a lua que nos vazia.
Rasga ao meio nuvens gigantes
extasiado com o azul cintilante
que os outros homens não viam.
Enquanto a platéia aturdida assiste,
a busca continua.
No rosto aflito o sorriso insiste
e ainda que em convulsões o corpo resiste
pressentindo a alma chegar a lua.