Sê feliz
Partir
Rolar na estrada
Soltar amarras
Viver
Sentir o sabor do vento
Em trémulas asas de luz
Voar
Voar alto, distante, errante
Qual o preço?
Da liberdade incontida
De uma vida assumida
Da paixão descarnada
Do rosto roçando a lua
E o sol caminhando
Nas rugas da tarde
Qual o peso?
De uma lágrima de raiva
Caída no chão de asfalto
De um ai em silêncio
Na vergonha dos dias
De uma gota de água turva
Sorvida sem parar
De perguntas amargas
Em respostas suspensas
Quanto vale?
Um dia
Um momento
Um beijo na lágrima do tempo
Um caminhar uníssono
De mão na mão
O amor
Que se faz no chão
E dói, e queima, e sufoca
Quanto dás?
Pelas memórias coadas
De dias perfeitos
Pelos sonhos de sonhos
Suados e repartidos
Pela vida de perguntas sem retorno
Pelos carinhos, por trocar
Na espera no vazio
Pela promessa, por saldar
Não fujas
Não tens por onde
Não escapas á vida
Sombra quente colada em ti
Que grita em surdina
Liberdade ao cativo
Sentindo os grilhões
Penetrando a alma
Quanto dás?
Por ti
Uma noite de sol?
Um dia de paz?
Uma resposta adiada?
Não importa
Se te enleias na busca da razão
E trocas os dias pelas noites
Se buscas todas as respostas
E esqueces as perguntas singelas
Se a tua concha é segura
Mas te aprisiona, indelével
Com teus fantasmas extintos
Não importa
Senão rasgar a página do tempo
Que segura a tua fuga
Sentir de novo quem és
Voltar a ser criança
Deitada em sonhos encantados
Não importa
Quando se perde a razão
À vontade submissa
De uma porta fechada
Indolor, constante, vazia
E a vida negada, pelo medo
Permanece expectante
Até ser
Tarde de mais
Nada importa
Senão viver
Sê feliz
G.Silva