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Rogério Beça | Publicado: 12/06/2020 04:54 Atualizado: 12/06/2020 14:55 |
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Re: O último autocarro
"O último autocarro" como título é uma combinação do uso da metáfora, com a aplicação dum objecto de uso corrente, isto é se se quisesse tornar o momento muito lírico e floreado poderia ser "A carruagem", por exemplo.
Mas tenho reparado, como estilo teu, a procura do quotidiano e do corrente, com o uso de metáforas invulgares e originais. O autocarro, sendo o último pode ser porque já não há mais nesse dia, porque as empresas têm de estabelecer limites de uso, nem que seja para rentabilizar o tempo das horas de ponta e das outras, em que teriam de pagar o mesmo em combustível e salário de motorista. Como pode ser o último que apanhou, mas sabe que irá apanhar muitos outros. Ou sabe que não irá usar mais esse meio de transporte, ou qualquer outro. Mas aqui esse veículo que é de uso colectivo, isto é, transporta o sujeito poético e outros passageiros, é uma metáfora\comparação bem conseguida para um monstro: "...o tempo..." Essa ilusão contínua que sabemos nos ossos que não volta para trás. Ressalvo que o autocarro tem essa capacidade de recuar, uma mudança que é a marcha-a-trás, apesar de esse movimento também ser um avanço. Se virarmos o corpo na direcção a que ele vai é um recuar em frente (lá começa a confusão...) que tu aliás referes do verso 6,7 e 8 da primeira estrofe. Nesses a imagem da bailarina lembrou-me um conto que ando a construir (depois mostro). Bela e sensual. Confesso que não gostei muito da comparação do cigarro com o sorriso, ambos, em comum, apenas têm a boca. Interessante, e é o momento alto de todo o poema, é falares da memória. Ela é o que nos dá o conceito do passado, ou até a sua possibilidade, e as representações que foste referindo, isto é as fotografias do antigo, "as cassetes" ou se guardam recordações de imagens com sons ou apenas sons (antes da era digital), na palavra escrita de acontecimentos (artigos de jornais a livros de história, por ex.). "...cresci o suficiente..." dizes depois. E assim parece, porque o acto de perdão é duma grandiosidade madura, assim como ter uma opinião firme que não muda (facilmente). Sobretudo, o sujeito poético diz esse não ao ódio. Porque ódio é lixo Não se guarda lixo em casa, ou na nossa arrecadação. Ele é despejado num contentor. É favor separar e pôr a reciclar. Inesquecível. Abraço irmã |
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