COTIDIANO:
Pelo buraco do tiro
Via o Sol brilhando o dia.
Um corpo negro em roupas coloridas
jazia no meio da rua e o desenho do seu sangue
me lembrou uma obra abstrata do passado distante.
Meninos desocupados atiravam pedras em velhos mendigos.
Alguém chutava um livro de Paulo Freire que sobrara da fogueira.
Na esquina um homem esmurrava uma mulher ao lado de um cachorro enforcado pendurado em varal improvisado...
Na parede desbotada de um antigo prédio, cartazes apresentavam o mais novo animal extinto.
Longe no horizonte, uma fumaça cinza anunciava a queimada do dia.
Beberiquei minha água turva pensando no arroz que novamente comeria no almoço.
Um canto religioso fazia a trilha sonora intercalado com o rotineiro tiroteio da manhã.
Agradeci a dádiva de um novo dia.
Nada de novo no front. (Proteus).