Poemas : 

O céu... não é o caminho

 
 


as feridas vão sarar

os ossos quebrados
engessados

os teus sonhos
resgatados dos escombros

os olhos levantados
com a luz dos lampadários

agora…

agora
jazida
no amor
que vou pingar mar

agora…

agora
sê forte
ausente do corpo
que vou ser porto dos braços
no teu acordar




 
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eir
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/05/2020 20:50  Atualizado: 25/05/2020 20:50
 Re: O céu... não é o caminho
Maravilhoso!
Abraços

Enviado por Tópico
Margô_T
Publicado: 26/05/2020 10:24  Atualizado: 26/05/2020 10:25
Da casa!
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Localidade: Lisboa
Mensagens: 308
 Re: O céu... não é o caminho
Um poema cifrado com uma boa escolha de vocabulário (poético) e com imagens interessantes que guiam o olhar do leitor. Destaco estes dois trechos:

"os ossos quebrados
engessados"

"os teus sonhos
resgatados dos escombros"

Saliento o ritmo e a sonoridade destes trechos. Os Ss em todas as palavras contribuem para um certo mistério sussurrado que dá uma ambiência especial aos trechos. Propositado e/ou intuitivo, o efeito sente-se e agrada.

Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 30/05/2020 04:15  Atualizado: 05/06/2020 07:37
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 2123
 Re: O céu... não é o caminho
Gosto de verbos no infinitivo.
"... sarar...", "...pingar...", "...acordar..."
afinal são só 3, pareciam mais.
Mas essa ilusão é forte, quando poucos verbos parecem muitos. Depois há ainda a questão da ordem, o sarar está no primeiro verso, o pingar sensivelmente a meio e o acordar é a última palavra.
Acordar no fim é duro. Engraçado.

Sobre o sarar, acho-lhe imensa graça também porque parece derivar do nome próprio Sara, que tem uma componente bíblica memorável, a mulher que pariu já idosa (salvo o erro), ou deu à luz.

"...os ossos..", "...os sonhos...", "...os olhos...", “...os braços...”
Uma curiosa associação física e metafísica, estando novamente por ordem mas cruzando-se, como numa rima interpolada: ossos com braços, sonhos com olhos.
Há uma ligação de duas palavras que me deixou um sorriso (gosto de sorrir quando leio, quase tanto como rir ou chorar): “...pingar mar...”. É impressão minha ou consigo ler armar? Ping armar.
Pode ser da hora. Armar o amor como é sugerido no poema é muito poético. Como se defende o amor? Atacará? Será imóvel? O que é?
Perguntas é algo mais que gosto em poesia que gosto.

Na transição do ultimo monóstico para a última estrofe há um momento que me capta, a repetição do “...agora...”
Ando farto de escrever sobre o agora. É apenas o tempo que mais gosto e menos tenho. Tenho já algum passado e terei muito futuro, agora, agora...
Mas a separação, feita com tanto cuidado chega a ser assustadora.
Obriga o leitor a parar. No Agora.

Mas acabemos de falar de estruturas e detalhes de menor importância.

O tom do poema é de esperança.
Começa com um acidentado gesso (a aliteração nos SS é gigante) depois de uma “...ferida...” que pode ser o sujeito poético ou um golpe na carne.
Mas com o “...sarar...” marca desse tom. Cura, cicatrização, levante, recomeço, é tudo o que me parece este poema.
Os “...sonhos resgatados...” (bela ideia) continuam até ao fim a missão de enfrentar, ou seja, seguir em frente.

Um dos favoritos é meu e conseguiste arrancar-me um segundo comentário.
Obrigado por me lembrares que há poesia aqui.
Estava a precisar