Poemas : 

carinho ou o receio de queimar

 
Nas coordenadas e nas abcissas
dum carreiro já gasto
feito de desbravar
é o passo de luz, o posso?, dá licença?,
e todas as delicadezas insubmissas,
território vasto
feito de e para o par,
desatino forma e fôrma de doença.

Duma firmeza leve, subtil,
sobretil no traço,
povoada dum disfarçado orgulho
e dor,
grassa vezes mil,
vê-se na pele e do espaço,
ousado mergulho,
caridade, claridade, ao dispor.

Vive, contudo, no fogo,
é coisa dum deus e do diabo,
dum suspiro, da luz num sorriso
na noite, e no escuro...
É o momento final do jogo,
esperança sem bom cabo
e falta de juízo,
é receio duro e puro.


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
Texto
Data
Leituras
874
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.