Liberdade aprisionada
Enquanto a fumaça não vem,
o trem espera ansioso a ida às montanhas,
às pontes,
às planícies
e aos trilhos lustrosos que correm a sua frente
e desaparecem depois de cada curva.
Enquanto a fumaça não vem,
o trem aguarda a chegada de pessoas,
magras,
gordas,
altas,
baixas,
brancas,
negras,
animais e peças que estarão dentro de seu corpo
metálico,
comprido,
barulhento e viril,
na esperança de ver chegada a sua estação branca
que as receberá.
Enquanto a fumaça não vem,
o trem não pode apitar para poder bradar ao mundo
a ironia de poder quase voar por entre matas,
túneis e imensidões sem término.
Enquanto a fumaça não vem,
o trem sonha com a amada ausente
que foi buscar noutros campos o seu descanso descansado
de quem viveu sempre a esperar por nada.
Enquanto a fumaça não vem,
o trem lamenta sua triste sorte de ser um preso
que vive em liberdade sem poder fugir.
Alexandre Sansone
02.1975