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A nudez da alma

 
É noite, sinto-te pela casa, em passos, por entre os espaços, vazios de ti. Logo há de chegar, as velas, sobre a mesa queimam e se gastam, em um pouco da esperança de logo ver-te.
Teu perfume, ameno paira pelo ar, mistura-se ao aroma das pétalas que cuidadosamente deixei ao chão, da casa, escuro, escuso de si em saudade, luzes apagadas, tudo em silêncio, realçado apenas com o brilho das estrelas, distantes, ao céu, que se intrujam por entre os vidros da janela da sala.
Dar-se o tempo, oiço, bate a porta, chegas, um tanto atrasada, envolta por pingos da chuva, que serôdia se derrama, como em pranto, fraco, presente. Num vestido vermelho, rente ao corpo, cabelos soltos, olhos sôfregos e coração pulsante, insegura talvez, mas bem delineada para com teus anseios. Despojas o teu vestido, unico acessório que cobria tua pele, branca, teu cheiro inunda os cantos, os meios, os lados que não se viram, que não se vê. Teu libido grita por entre teu olhar, serrado, fitado em mim. Entras por entre porta, cala-me o dizer-te com tua língua que afaga a minha, tuas mãos inquietas, tua estuga em achar-me. Dou-me ao palor de outrora, acomete-me a dor das
amarras. Desato-me do teu beijo que queima em meus lábios, afasto-me do teu quadril que o meu procura, no desejo de encaixa-te. Cá, não me cabe. Não se desatina a mente, liga-se as luzes que não escureciam, já que lucido ainda estava. Recolho teu calçado por sobre tapete, lhe devolvo o vestido que se perdera no caminho e peço-te:
- Vai embora.
Teu desejo, mais que tua nudez assusta-me, tamanho é o infortunio que nada mais de ti desejo. Enamorei- me por tua alma, nua, onde a beleza intacta se apura ao decorrer do tempo. Vá, cubra os teus excessos, procure-me no dia em que isento de mim mesmo, ei de querer-te apenas num corpo, nu, sem alma. Deixa-me só agora, habituei-me, quase em todo o tempo estou. Apague as luzes antes de ir por favor, deixe apenas o vinho, o cheiro que não se vai, para apetecer-me a sonhar com o dia em que ei de encontrar, a nudez, que tua pele sem roupa esconde, permita-me pensar, que cá ainda não chegaste, para quem sabe assim, ter de ti aquilo que em verdade almejei...


"Morremos gestantes da ansiedade que nada espera."

 
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Junior A.
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Enviado por Tópico
ângelaLugo
Publicado: 03/02/2007 06:39  Atualizado: 03/02/2007 06:39
Colaborador
Usuário desde: 04/09/2006
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Mensagens: 14852
 Re: A nudez da alma p/ Junior A.
Querido Junior, você deixou minha alma nua com esta escrita tão bela, tão profunda, que meus olhos comeram com aptidão cada palavra aqui escrita e só posso te dar os parabéns e pontuar com um 10 se tivesse mais eu daria...Belíssimo... Beijinhos nesta alma iluminada que tens

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 09/03/2011 23:10  Atualizado: 09/03/2011 23:10
 Re: A nudez da alma
Adorei seu poema, muito lindo! parabéns


Abraço
Jorge