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Enviado por | Tópico |
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Rogério Beça | Publicado: 03/05/2020 09:33 Atualizado: 04/05/2020 06:47 |
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Re: de incertezas, para incertezas
Errar é um dos verbos mais mal-amados que existem.
Nos últimos tempos tenho-lhe um fascínio que roça o indescritível. Faz-me viajar para o errante, por exemplo. E para o errado. Depois a extrapolação é simples, o antónimo de errado é certo. Então, outro nome para errado é incerto. Obviamente que por esta fase estão-me a bater à porta para me levarem para o Miguel Bombarda, por estar com silogismos, etimologias e coisas destas do Palavrar (como diria o Poeta). Pois do “...errante...” para o “...de incertezas\para incertezas...” foi um pulo. Pois aprendemos mais e mais facilmente com os erros do que com os acertos. Este poema quer-se, contudo, turvo. Os olhos que leem e que suportam olhares, e com eles visões e perspectivas, veem-se amiúde, neste poema, encharcados. Ao nível metafórico, a água como elemento purificador (é com ela que se lava, literalmente limpar com água) transformada em charco, ao nível da imagem coloca-me mais como um pequeno lago, ou uma poça gigante do que propriamente com o movimento que é posto. Depois, para tornar divertida e leitura que ameaça ser tão séria, aparece a figura do navio (falta só a carta de marear em charcos) e o calado com o seu doce duplo sentido (vão ver o sentido náutico, é revelador) com ligações profundas ao silêncio. Sem motor? Na segunda e terceira estrofe há duas referências temporais que servem de alerta. O apelo do sujeito poético ao Carpe Diem é intenso, mas parece não ter resposta. “...esquecendo o dia que passa...”, “...esperam\a hora do fim para alvorar”. Porque o fogo, as “...Labaredas!...” são sem dúvida muito apelativas. A cinza, das quais são consequência, são ciscos que não mais acabam, e nem a metáfora, belíssima, dum milhafre, ou queimado (mais um golpe de génio a combinar com as labaredas) nada podem fazer. Está na nossa natureza esse errar que me fascina e que este poema é. Abraço Zita |