Sobranceiro, lá se passeava ele pelas ruas apinhadas de gente e gentalha com o já conhecido olhar de alguém que preconizava o caos e personificava os desejos dos petizes que o viam como herói, um salteador de Sherwood dos tempos que corriam. Todos os dias, religiosamente, passava pelos mercados de rua a fim de uma safra paralela à dos vendedores, uns perdiam, outros ganhavam.
A arte do alívio não era para todos e só se aventurava que tivesse meses de preparação, teórica e prática. A intenção era que ninguém tivesse de fugir aos quase sempre balofos agentes da autoridade, a arte em si era saber evitá-los, ou saber evitar os olhares destes e dos anteriormente legítimos proprietários dos haveres aliviados. Nunca se devia abusar da sorte, o número de alívios cifrava-se em não mais que dois ou três artigos.
De cada vez que saía nestes passeios higiénicos era acompanhado de quatro companheiros que nunca andavam juntos e que nunca eram os mesmos de dia para dia, eram, na altura, trinta no total, e o cúmulo da recolha seria distribuído por todos conforme a experiência e o tempo de serviço, ele amealhava metade do furto, o prevaricador recebia um quarto da outra metade e o restante era distribuído equitativamente pelos restantes - de acordo com os moldes estabelecidos. O facto de alguém ser apanhado, acontecia, obrigava a nova ginástica financeira, teriam de untar as mãos da lei e isso observava a que houvesse castigos.
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma