É sempre bem vindo um pensamento que salta o muro ou que, se não pode sair pela porta sai pela janela e, se não puder sair pela janela sai pelo buraco da fechadura, porque é livre, porque é livre.
Obrigar a pensar.
É possível pensar que um sistema político, económico, social... não pode ser confundido com uma ordem natural das coisas.
De qualquer modo, o sistema capitalista tem a aptidão para capitalizar tudo, incluindo o próprio prejuízo e a própria falência.
O sistema capitalista sobrevive a tudo e ganha com (quase) tudo, com a morte, com a guerra, com a destruição, com a fome, com o talento e com a falta dele, porque é basicamente um modelo de contabilidade, em que as próprias preocupações humanas (saúde, bem-estar, justiça, paz) correspondem a um valor contabilístico e, nesta medida, até consegue capitalizar o socialismo e os afectos (o Marcelo é um caricato exemplo disso).
Na minha opinião, o capitalismo só perde quando for "capitalizado" por um socialismo qualquer que sobreponha, às veleidades e excentricidades e atrocidades do capital de indivíduos ou grupos, o interesse e a sobrevivência do colectivo.
Atualmente, a concentração de riqueza é de tal ordem que já dispararam os alertas mundiais automáticos...
Irónica e paradoxalmente, esta concentração de riqueza, com todos os seus defeitos e perigos, parece ser uma bênção para a preservação do planeta. Se distribuíssem a riqueza por todos, era o descalabro total.
O capitalismo é autofágico, mas só até ao ponto em que não é capaz de permitir a sua própria reprodução.
Exemplo disso é esta crise. Menos de um mês bastou para vermos o capitalismo a pedir socorro àqueles que sempre maltratou e injuriou e abominou e, mais grave do que isso, a defender para si mais providência do Estado do que aquela que alguma vez admitiu para os mais desfavorecidos da sorte.
Por outro lado, é sabido que o capitalismo, ou outro sistema qualquer, só irão até onde os deixarem ir.
Quando o capitalismo, ou outro sistema qualquer, deixa de servir os interesses da sociedade e começa a ser perverso e nocivo para a mesma, a distribuição de talentos cá estará para "garantir" que a justiça seja a última coisa a morrer.